Hipersensibilidade no autismo: Compreendendo e Apoiando Pessoas Autistas 

A hipersensibilidade é uma característica comum no espectro do autismo, afetando a forma como as pessoas autistas percebem e reagem aos estímulos sensoriais. Essa sensibilidade elevada pode ter um impacto significativo na vida diária das pessoas autistas e na sua capacidade de se engajar plenamente no mundo ao seu redor. Neste artigo, exploraremos a hipersensibilidade no autismo e forneceremos dicas para apoiar e compreender melhor as pessoas autistas. 

1. O que é hipersensibilidade no autismo? 

A hipersensibilidade no autismo refere-se a uma resposta sensorial exagerada – hiperreatividade sensorial – a estímulos do ambiente, como sons, luzes, cheiros, mudanças bruscas e extremas no clima, texturas e sabores. Pessoas autistas podem ser mais sensíveis a certos estímulos e podem experimentar essas sensações de maneira intensa e avassaladora. 

2. Principais áreas de hipersensibilidade no autismo: 

  • Hipersensibilidade ao som: Pessoas autistas podem ter dificuldade em filtrar sons e podem ser extremamente sensíveis a ruídos altos ou sons de alta frequência. 
  • Hipersensibilidade à luz: A luz intensa ou os contrastes de luz podem ser desconfortáveis ou até mesmo dolorosos para pessoas autistas, levando ao uso de óculos de sol ou evitando ambientes brilhantes. 
  • Hipersensibilidade tátil: Certas texturas, tecidos ou toques podem ser aversivos para pessoas autistas, levando-as a evitar certos materiais ou evitar contato físico. 
  • Hipersensibilidade a cheiros: Alguns cheiros comuns podem ser avassaladores para pessoas autistas, causando desconforto ou até mesmo náuseas. 
  • Hipersensibilidade a sabores: Alimentos com sabores intensos ou com determinadas texturas podem ser desagradáveis para pessoas autistas.
  • E outras como hipersensibilidade a fogos de artifícios, a mudanças bruscas e intensas do clima, as mudanças físicas e energéticas do ambiente.

3. Impacto da hipersensibilidade no dia a dia: 

A hipersensibilidade no autismo pode afetar várias áreas da vida cotidiana, incluindo as rotinas das atividades sociais, da escola, do trabalho e do lazer. Pessoas autistas podem achar difícil participar de eventos barulhentos, frequentar lugares com iluminação intensa ou até mesmo usar certas roupas devido à sensibilidade tátil. 

4. Apoiando pessoas autistas com hipersensibilidade: 

  • Educando-se: Informe-se sobre o autismo, seus desafios e características. Quanto mais você entender a hipersensibilidade, melhor poderá apoiar pessoas autistas em seu convívio. 
  • Comunicação: Ouça e respeite as necessidades e preocupações das pessoas autistas. Crie um ambiente onde elas se sintam à vontade para expressar suas sensibilidades. 
  • Ajustes ambientais: Se possível, faça ajustes no ambiente para minimizar estímulos sensoriais que podem ser problemáticos. Isso pode envolver reduzir o brilho das luzes, fornecer fones de ouvido ou oferecer espaços tranquilos. 
  • Sensibilização: Divulgue informações sobre a hipersensibilidade no autismo para promover a compreensão e empatia na sociedade. 

5. Minha experiência com a hipersensibilidade e hiperreatividade sensorial:

Sempre tive uma sensibilidade ou percepção aguçada principalmente com relação as energias das pessoas e dos ambientes. A yoga taoísta me ajudou a lidar e aprimorar estas características, pois uma das minhas dificuldades sempre foi perturbar-se com facilidade ou ter uma reação fora do habitual diante das pessoas comuns que brigam, enganam, competem, machucam e prejudicam umas às outras por meros interesses pessoais. Esta mentalidade da sociedade humana comum sempre me chamou a atenção e tem sido um dos pontos de reação intensa e avassaladora de minha parte por perceber nisto, dentre outras coisas um comportamento egoísta e agressivo. Atualmente, percebo que minhas experiências proporcionadas pelos trabalhos espirituais do Santo Daime, das praticas do Tai-Chi e do Falun Dafa tem me ajudado a diferenciar o meu lado de yogue místico com mediunidade ostensiva da hipersensibilidade de minha condição de Aspie, tem trazido com muito esforço o meu equilíbrio emocional, assim como, o entendimento da minha condição de ser uma pessoa eminentemente reservada. Bom, não sei se consegui me expressar com destreza, mas finalizo dizendo que tudo isto é muito inusitado.

Conclusão: 

A hipersensibilidade no autismo é uma característica importante a ser compreendida e considerada quando interagimos com pessoas autistas. Ao reconhecer e apoiar as necessidades sensoriais individuais, podemos ajudar a criar ambientes mais inclusivos e promover o bem-estar de todos. Lembre-se, cada pessoa é única e pode ter suas próprias necessidades e preferências, portanto, seja aberto, empático e respeitoso.

Uma história inusitada

Nestes últimos dias, eu li duas histórias interessantes de duas pessoas respeitáveis que tiveram diagnósticos tardios de autismo tipo I e assim como elas, a minha história não foi diferente, tanto é que atualmente me encontro numa situação inusitada e, às vezes, difícil de ser encarada. Essas histórias são de duas mulheres, ambas com visibilidade pública: uma é atriz global e a outra, política. A primeira é a atriz Letícia Sabatella e a segunda é a jornalista e deputada estadual Andrea Werner que com seus relatos me fizeram pensar sobre toda a minha difícil jornada no que diz respeito a compreensão do meu comportamento e das minhas emoções.

Como a atriz disse, eu também tive uma sensação libertadora ao ser diagnosticado como Aspie aos 55 anos. Porém, comigo a notícia chegou de forma inesperada e como descrevi em um artigo “…a confirmação do meu diagnóstico – mesmo tardio – trouxe um contratempo, um grande processo catártico e o começo de um novo decurso na minha evolução existencial enquanto pessoa e profissional da psicologia”.

Com relação as reações explosivas comentadas pela atriz, no meu caso também sempre estiveram relacionadas a um hiperestímulo provocados por situações que, de algum modo, houve uma injustiça de compreensão por parte das pessoas ao meu redor. O curioso é que ao ler a entrevista de Sabatella, eu me lembrei de um médico que fora meu colega de trabalho e, às vezes, me dizia que eu parecia um pitibull quando não era compreendido.

O importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam. (Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas)

De acordo com o psiquiatra Alexandre Valverde, “os casos mais leves de autismo estão muitas vezes associados ao que socialmente reconhecemos como timidez. Não há muita fixação do olhar, há uma dificuldade de aceitar barulhos ou situações de interação social intensa e, muitas vezes, uma leve dificuldade de se expressar verbalmente”. Interessante que ele mesmo, também, foi diagnosticado tardiamente aos 42 anos com o grau mais leve de autismo. O psiquiatra paulistano disse que nunca suspeitou que ele fosse autista, o que foi diferente no meu caso que sempre desconfiei, portanto fugia do assunto. Mas, assim como ele, eu tenho dupla excepcionalidade o que justifica ser um Aspie e sempre costumei mascarar a condição neurodivergente para não ser visto como esquisito.

Diante desta caminhada, só me resta respeitar as minhas limitações, o meu tempo, estudar mais o assunto e esforçar-se para não dá atenção as indelicadezas e preconceitos do mundo neurotípico que nos faz sentir-se inadequado e exausto.

Vivendo ensimesmado

Somos engraçados e ensimesmados… Somos Aspies.

Temos uma hipersensibilidade sensorial e emotiva. Sentimos as emoções muito fortes e intensas. Sentimos as coisas muito profundamente e tendemos a sentir as emoções de outras pessoas intensamente. Isso pode ser muito difícil de gerenciar. Qualquer atitude grosseira ou mal educada nos faz passar mal. Parece uma agressão muito impetuosa e incômoda.

Apresentamos exaustão total ou estresse mais facilmente. Isso pode ser oriundo de preocupação, dificuldade de socialização, gatilhos sensoriais, colapsos nervosos e nossas emoções. Viver num mundo neurotípico é muito difícil.

Temos fixação por interesses específicos.  Podemos nos perder em nossos interesses e tarefas, podemos esquecer-nos de fazer coisas básicas como comer e dormir.

Temos preocupação constante sobre o que as outras pessoas pensam da gente e como nossas ações afetam os outros.  Costumamos nos preocupar com tudo, inclusive, excesso de preocupações com terceiros.

Temos medo do julgamento.  Muitas vezes temos medo intenso e persistente de sermos observados e julgados pelos outros.

Temos obsessão pelo passado e pelo futuro, particularmente pelas coisas que estavam (e ainda estão) fora de nosso controle. Notamos cada pequeno detalhe.

A ecolalia manifesta-se de várias formas desde repetir muito as mesmas coisas até uma sonoridade específica ao falar.

Apresentamos sempre gosto pelo mesmo grupo de comida e sempre os mesmos rituais com horários. A inflexibilidade com atrasos provoca impaciência, irritação e incômodo. Tudo que interfere numa rotina específica provoca sofrimento.

Temos hiperfoco no trabalho, aversão à competitividade e a mudanças na rotina.

Diferente, não menos importante!

“Eu sou diferente, não menos”, uma frase de Temple Grandin, psicóloga e zootecnista americana com autismo de alta funcionalidade que me chama atenção e me leva a refletir sobre esta condição. Lembro-me até hoje que quando eu era criança costumava me isolar no recreio e ficava sentado sozinho num banco na parte de trás da escola, conversando com meus botões e apresentando estereotipias motoras. Não se envolvia em atividades de competição e tinha dificuldades para interagir nas brincadeiras. Era muito reservado e choramingava com frequência. Não queria ir para a escola devido a dificuldade de estar convivendo com muitas crianças e as dificuldades no desenvolvimento da grafomotricidade. Este era o meu normal, apesar de ser visto como o diferente.

A vida na escola sempre foi difícil e enfrentei muitas dificuldades para superar a síndrome de asperger que não sabia o que significava. Eu me recordo que sempre procurei atividades isoladas, sempre relacionadas ao estudo estimulado pela minha mãe. Costumava ler muito desde muito cedo; passei a ter um apego pela leitura e pelos livros que se tornou um dos meus hiperfocos. Sempre fui um aluno autodidata.

Eu nunca entendi e nem me importava sobre os comentários que ouvia ao meu respeito quando era jovem. Os mais comuns eram: “esse menino é leso, é aéreo”; “ele é muito fora de si”; “ele é insensível…”; “esse rapaz é misterioso, diferente… inacessível”; “…às vezes, ele parece um robô e é desajeitado quando dança”.

Desde pequeno eu me deparei com uma facilidade desmedida para com a geometria, para memorizar imagens e espaços geográficos urbanos como mapas (outro hiperfoco) e, também, páginas de livros. Descobri depois de muito tempo que a minha mente se organizava por meio de imagens e não por palavras. Uma outra inclinação que tenho percebido e que pode ser caracterizada como hiperfoco é a seguinte: desde criança sempre tive facilidade em praticar uma vida reclusa, monástica, erudita, cumprir com as regulações espirituais. Estas tendências a reclusão me faz pensar e ficar confuso com relação ao diagnóstico, pois, será que este jeito de ser é peculiar a minha essência ou está relacionado, simplesmente, a características da neurodiversidade, que segundo Dr. Kenneth Roberson todo Aspie precisa de um tempo de inatividade, de ficar só para se restabelecer, manter o equilíbrio e prevenir colapsos desnecessários. Tudo isso é, no mínimo, muito intrigante… Assim, considerando estes comportamentos bem como todas as características e história descritas a seguir, eu imagino que, provavelmente, estou em algum lugar dentro do espectro autista como diz Judy Singer, mas com fortes características de um tipo psicológico raro conhecido como o INFJ, de acordo com perspectiva junguiana.

“Essas pessoas(INFJ) isoladas e amigáveis são complicadas por si mesmas, e assim podem entender e lidar com questões éticas complexas e com indivíduos profundamente perturbados”. – David Keirsey.

Já na juventude comecei a observar em mim características de personalidade tais como isolamento social, dificuldades interpessoais, afeto depressivo, autocritica demasiada, déficits de enfrentamento, desconforto em situações sociais, reserva social e introversão, timidez e ansiedade social, linguagem pedante¹ e rebuscada, pensamento perseverativo², pensamentos intrusivos, prejuízo de interação social, olhar fixo e distante, sensação de que os  membros superiores estão desconectados do corpo ou sem um certo controle, hipersensibilidade sensorial e movimentos motores descoordenados. Tudo isto variando em grau e dependendo das situações. E mais, é relevante entender que algumas destas características tem origem diversas como a distonia focal e outros aspectos.

Aos poucos comecei a observar outras características como perceber padrões nas coisas o tempo todo; demonstrar perseverança em reunir e catalogar informações sobre um tópico de interesse, inclusive, memorizar com facilidade em que página de um livro está determinado trecho, mania de apego excessivo a determinados objetos, fixação em um assunto, aspecto restrito de interesses, perturbação diante da mudança e apego às rotinas.

Como qualquer pessoa nesta condição, eu sempre tive hipersensibilidade a estímulos como barulhos, discussões, excesso de claridade e ideias paradóxicas ou sem um padrão lógico; desconforto e pânico quando incomodado e contrariado ou quando alguém discorda de minhas ideias ou concepções; forte inclinação a monopolizar uma conversa e deixar pouco espaço para a troca; inclinação a uma bondade ingênua, sinceridade demasiada e autenticidade; dificuldade com mentiras e para perceber perguntas maliciosas; incômodo desmedido quando alguém se dirige a minha pessoa para cumprimentar, em alguns momentos; demora na resposta de algumas perguntas.

O estilo geralmente reservado e frequentemente intelectual e excêntrico do portador de SA pode ser atraente para o parceiro, que, apesar das expressões amorosas contidas, parece ter encontrado um relacionamento seguro e estável, o que costuma realmente ser o caso, pois pessoas com Asperger tendem a ser responsáveis, transparentes e leais. Porém, no decorrer no relacionamento, especialmente após o casamento e instalação da rotina, o parceiro neurotípico deixa de receber as singelas demonstrações românticas que ainda faziam parte da relação… Audrey Bueno

Às vezes me percebia disperso e em alguns momentos apresentava comportamento catatônico com desrealização. E não entendia isso… Quando criança ficava com uma postura rígida diante de qualquer intervenção ou situação inconveniente; demorava para responder ou apresentava fala seletiva, ou seja, Silêncio Seletivo que é a escolha limitada de pessoas a quem a palavra é dirigida. Nas conversas em grupo sempre fiquei como que distante olhando fixo; não interagindo muito. Em outros momentos encarava as pessoas. Não sabia jogar bola com os colegas.

Com relação ao parto, foi muito difícil e demorado. Nasci cianótico de um parto com fórceps, tive problemas com transtornos convulsivos na meninice e fiz uso de medicações para isto. Dentre as causas constatadas desta condição, uma delas seria a indiferença da mãe para com o filho e complicações perinais. Leo Kanner chamou a atenção para o que ele chama de falta de envolvimento e calor humano entre os pais de crianças autisticas como uma das causas associadas desta condição. Eu acredito piamente nisto, portanto, não gostaria discorrer sobre este aspecto neste momento… Lembro-me que minha mãe se preocupava muito comigo devido a tanta excentricidade e me levava muito ao médico. Não tive a sorte de ser diagnosticado corretamente logo cedo tanto da Síndrome de Asperger quanto da Distonia Focal(Task-Specific Hand Dystonia). Quando criança, eu tinha facilidade de apresentar cianose com qualquer esforço e sentia muito incômodo na cabeça, demonstrava desajeitamento motor e descoordenação motora, expressão facial sisuda e sem riso, jeito de ser meio robótico ou dificuldades para expressar sentimentos, desejos e interesses. Padecendo por causa do subdiagnostico, encontrei a yoga que me ajudou muito a me restabelecer com exercícios de respiração e controle das emoções, desde cedo.

Hoje, mais do nunca, compreendo que sempre passei a maior parte do tempo se esforçando para mascarar a minha condição de provável autista ou mesmo de homem INFJ. E, portanto, percebo que este esforço tem sido uma das causas principais do meu grande desgaste de energia, estresse, ansiedade e sintomas depressivos durante toda minha vida. Segundo Rebecca Joy Stanborough, em lugares onde o espectro completo da neurodiversidade não é compreendido ou acolhido, as pessoas autistas muitas vezes sentem a necessidade de apresentar ou realizar comportamentos sociais considerados neurotípicos. Algumas pessoas também podem sentir que têm que esconder comportamentos neurodiversos para serem aceitas. Mascarar o autismo, às vezes, pode ajudar a proteger as pessoas autistas de serem “expulsas” ou assediadas na escola ou no trabalho. Esse comportamento nem sempre é intencional, o que pode levar a confusão sobre a identidade de uma pessoa. Pois é, o Autism Masking sempre esteve presente na minha vida e além do desgaste energético, me fez ficar confuso com relação a minha identidade por muito tempo. Assim como para o autismo em geral, a camuflagem social é um comportamento muito presente em qualquer pessoa aspie. Segundo Bahar Ateşin, muitas pessoas no espectro do autismo se sentem obrigadas a fingir não ter autismo. Eles investem um esforço considerável diariamente no monitoramento e modificação de seu comportamento para se adequar às convenções de comportamento social não autista. Esse fenômeno passou a ser chamado de mascaramento, compensação e fingimento de ser normal.

“Eu preciso de tempo para refletir e para entender outra pessoa ou avaliar uma nova situação. Na vida real, não temos tempo. Não temos um controle remoto. A vida não é um filme que você pode colocar no intervalo para buscar informações em um livro. Ter Asperger é como estar preso numa cúpula sem poder sair dela.” Matin, 18 anos

De acordo com uma Cartilha Informativa sobre Síndrome de Asperger do Spectre de L’autisme – um Projeto financiado pela Federação de Wallonie-Bruxeles…

Posso dizer que alguns dos meus pontos fortes enquanto Aspie no tocante aos relacionamentos e comportamentos são os seguintes: Grande respeito pelas regras quando são claras e bem definidas; Grande confiabilidade, sinceridade e honestidade; Compromisso leal; Envolvimento se houver meu interesse; Memória excepcional (em particular visual), o que me permite constituir “minha base de dados” na qual eu constantemente desenho na tentativa de reproduzir situações já vividas e assim compensar parcialmente a minha falta de compreensão do implícito e dos códigos sociais; Desejo real de fazer parte da turma e ter amigos. E no aspecto cognitivo e escolar, alguns dos pontos fortes são: Inteligência muitas vezes superior a média; Pensamento analítico; Sensibilidade aos detalhes; Lógica inegável, dotada de ciência; Memória extraordinária em interesses particulares; Conhecimento enciclopédico sobre os assuntos que os fascinam; Vocabulário importante (repetição de seus adquiridos, mas nem sempre compreendidos), jogos de palavras; Perseverança, perfeccionismo. Com relação aos pontos fracos nos relacionamentos e comportamentos posso destacar os seguintes: Comunicação não verbal limitada, poucas expressões gestuais ou tratamentos faciais; Gestos inadequados em caso de estresse; Falta de compreensão das sutilezas da linguagem como humor e ironia; Falta um pouco de compreensão das convenções sociais, atuando na direção oposta; Dificuldade em se colocar no lugar de outras pessoas; Resistência à mudança e as ansiedades que dela podem resultar; Baixa auto estima e Rigidez (física, mental, relacional); Certo grau de Ingenuidade e bondade; Sem real senso crítico (passando más influências ou se tornando um emissário cego); Coordenação motora prejudicada; Dificuldade de pertencimento. E no aspecto cognitivo e escolar, alguns dos pontos fracos seriam: Dificuldade de trabalho em grupo; Limitação no tocante a Planejamento e organização; Lentidão em alguns aspectos; Desinteresse por determinados assuntos; Dificuldades no desenvolvimento da grafomotricidade ou nos gestos grofomotores.

“Pessoas com síndrome de Asperger geralmente têm inteligência normal mesmo, para alguns, superior à média, pode ter uma memória excepcional e às vezes falam fluentemente. Alguns alcançam excelentes resultados acadêmicos. Mas essas pessoas estão dispersas no espaço, fora de fase no tempo, dominadas por monopolização das conversas sem espaços para trocas e sua comunicação desajeitada, muitas vezes hesitante, são mais frequentemente perdida em tentativas falhas. Para serem menos dispersas, elas se concentram nos detalhes; para estar menos fora de fase, elas são tranquilizadas por rotinas; para lidar com suas falhas de comunicação com os outros, elas se concentram exclusivamente em si mesmos, sem se contentar com isso.” G. Lelord

Assim, diante disso tudo e considerando os testes Aspie Quiz, Ritvo Autism Asperger Diagnostic Scale e o Quociente de Espectro do Autismo (QA) posso dizer que apresento critérios significativos para autismo de alta funcionalidade. Quando desconfio que sou preponderantemente um Aspie quero dizer que me percebo uma Pessoa Neurodiversa dentro desta biodiversidade humana de acordo com o paradigma da Neurodiversidade. Os defensores da neurodiversidade ressaltam que as pessoas neurodiversas costumam ter habilidades atípicas, como a capacidade de hiperconcentração ao lado de seus déficits. As pessoas autistas, particularmente, podem ter uma memória excepcional ou até habilidades de Savant. Na população autista, mesmo aqueles sem habilidades do savantismo são mais propensos a ter conhecimentos ou habilidades atípicas em certas tarefas do que a média da população em geral. Devido ao fato de perceber-se diferente neste mundo do “homo normalis”, o esforço tendencioso para se enquadrar no universo dos neurotípicos é incomensurável e, portanto, não sofrer com o bullying e o sentimento de exclusão social ou “non-belongingness”. Tudo isso é um fator precipitante de ansiedade. Precisamos reconhecer e respeitar as diferenças neurológicas que fazem parte da vida de muitas pessoas e incluí-las no mercado de trabalho, segundo  Judy Singer³. Ela alerta que uma “conexão neurológica” atípica (ou neurodivergente) não é uma doença a ser tratada ou curada. Trata-se, acima de tudo, de uma diferença humana que deve ser reconhecida e respeitada como categoria social, semelhante à etnia, classe socioeconômica, orientação sexual, gênero ou deficiência. Portanto, esta condição de ser um provável Aspie e sobretudo ter nascido com Distonia Focal me transformou numa pessoa enigmática! Na verdade, muita coisa é esfíngica.

“Provavelmente estou em algum lugar no espectro autista — em algum lugar entre o baixo funcionamento, o ‘sub-realizador’ normal (como eu era frequentemente vista) e o alto funcionamento, autista sobrevivente-contra-chances impossíveis.” Judy Singer

 “Todos nós, em graus variados, encontramo-nos desgarrados em busca de um eixo, de um “pertencimento”, num universo desconhecido.” Celeste Ribeiro de Sousa

Notas:

1- A condição de Pedantismo (característica de expressar erudição e cultura na fala); o pedante – que também é uma característica autista – costuma corrigir os erros gramaticais de outras pessoas e sempre considerar o seu ponto de vista mais correto, pelo fato de se considerar intelectualmente mais avançado.

2- A perseveração – termo usado no autismo para se referir ao comportamento de ficar preso num mesmo assunto ou tarefa, com pouca ou nenhuma variação; é como se fosse um disco riscado no cérebro, que faz o indivíduo voltar a fazer uma mesma coisa ou perguntar repetidamente, por um longo tempo, sem se entediar.

3- Socióloga australiana e portadora da síndrome de Asperger que criou o termo Neurodiversidade.